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Família e amigos

sábado, 22 de maio de 2010

O porta-lápis encantado




A escrivaninha dele [de Samuel] estava repleta de papéis, rabiscos, desenhos, enfim, uma bagunça deliciosa. Teo sentia vontade de pular ali e dançar, dançar, dançar muito, aprender um monte de coisas novas e...
Os pensamentos de Teo foram interrompidos por uma fina:
— Afinal de contas, quem é você, baixinho?
— Eu? Ora, eu sou o gnomo Teo, da Floresta dos Troncos Amarelos – respondeu ele para o Lápis Grafite.
— Um gnomo? Era só o que faltava. – comentou a Borracha.
— Ora, cale-se! – falou a Régua, que implicava sempre com a Borracha.
A Borracha não se deu por vencida e continuou:
— Mas o que um gnomo pretende fazer por aqui? Roubar nossa casa?
—Nada disso! Eu estava pensando em aprender algumas coisas – respondeu Teo.
— Que coisa? – disparou a Caneta Azul.
— A língua dos homens – disse o gnomo.
— Aprender para quê? – perguntou o Apontador.
— Ora, para entender as conversas dos caçadores e, assim, ajudar meus amigos, ler as placas e, quem sabe, aprender umas piadas – respondeu Teo.
— Piadas? É só você, com essas enormes orelhas de abano, se olhar no espelho que nem precisa de piadas! – falou o Lápis Grafite.
A risada foi geral no porta-lápis. Só o Lápis Amarelo ficou sério.
— Calem-se — disse ele. — Vocês querem que o visitante pense que somos um bando de mal-educados?
— Nós só estávamos brincando – respondeu o Lápis Vermelho.
— Brincando ou não, é bom vocês se comportarem — disse o Lápis Amarelo.
Voltando-se na direção de Teo, falou:
—Senhor gnomo, como guardião oficial do porta-lápis, eu declaro que o senhor pode ficar.
— Oba! Oba! — Teo pulava de alegria.
— Espere, espere, há uma condição: depois que tiver aprendido tudo, você deverá partir, deixando a coisa mais valiosa que possuir — observou o Lápis Amarelo.
Teo balançou a cabeça duas vezes para a direita e três vezes para a esquerda, como costumava fazer sempre que precisava pensar seriamente sobre algum assunto. Então disse:
— Está bem, eu concordo!
As aventuras de Teo começaram naquele momento. Pegando carona com os lápis e canetas que o escritor ia usando, ele, que era invisível para seu Samuel, foi aprendendo as letras, as palavras, como se formavam as frases, depois as idéias e mensagens. Com o Lápis Azul, ele saía para colorir o céu e o mar. O Amarelo leva-lhe em viagens para dar vida ao sol, ao cabelo loirinho da garotinha e para pintar flores com o girassol. O Verde — muito em moda — levava Teo para colorir grama, lagos e árvores. Dessa forma, rapidamente o gnomo se tornou amigo de todos os lápis. Logo, seria também das canetas. Agarradinho na Preta, ele percorria o papel, eufórico, pois era com ela que o escritor criava suas historinhas. A Vermelha, que no início era meio antipática, levava-o para sublinhar algumas palavras.
E foi assim que Teo acompanhou o nascimento de muitos livrinhos, logo que ele aprendeu a língua dos homens.
No porta-lápis, todos estavam felizes com o novo companheiro que lhes contava histórias de verdade sobre a floresta. Seu Samuel, mesmo não sabendo da presença de Teo, também se sentia muito bem. Passava a escrever mais e até os cochilos tinham diminuído um pouco. Teo explicava aos amigos que isso acontecia porque os gnomos são seres mágicos: a sua presença basta para que coisas boas aconteçam. A Régua implicava com a Borracha, dizendo que isso era papo furado. Mas quem dava bola para a Régua? Às vezes, seu Samuel olhava com um carinho especial para o porta-lápis, como se desconfiasse de alguma coisa... Todos coravam de vergonha, espcialmente Teo, que comentava:
— Ele sente a minha presença, só não consegue me ver.
No verão, Teo já sabia o alfabeto inteiro de A a Z, a hora certa de colocar um acento, quando era vez de do C, do S e do Z. Sabia também por que se dizia “Adeus”, “Muito prazer” e “Parabéns”. E, ainda, o que eram aeronaves, foguetes, palácios e planetas. É... Chegara a hora de partir, voltar para a floresta, deixar o porta-lápis. Teo se lembrou da promessa feita ao Lápis Amarelo: “Dar o que possuísse de mais valioso”. Mas o que poderia ser? O gorrinho, as botas, as calças? Talvez o pequeno anel de prata ou a fivelinha brilhante de seu cinto. Não, não eram preciosos o bastante. Além do mais, não poderiam ser repartidos entre todos os amigos. Teo balançava tanto a cabeça — duas vezes para a direita e para a esquerda —, pensando e pensando, que todos os moradores do porta-lápis já estavam nervosos.
— Qual o problema? — perguntou a Caneta Preta.
— Eu não consigo descobrir qual é o bem mais valiosa que posso deixar aqui, colocar numa bonita caixa de presente, amarrar com uma fita porque...
— É invisível? — arriscou o Lápis Amarelo.
— Isso mesmo. Está dentro de mim. É tudo o que aprendi. Entende?
[...]

TULCINSKI, Lúcia. O Porta-Lápis encantado. Scipione

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